[Especial] A Destruição da Primeira Faculdade de Medicina do Brasil
"Atentai, ó vós que estais a pisar este chão.
Este chão é sagrado.
Este chão, este solo, esta terra são ungidos, são consagrados, são abençoados pelos deuses da Medicina.
Este é o chão do Santuário da Medicina primaz do Brasil."


Antigos alunos e professores de medicina jamais absorveram a decisão do regime militar, que transferiu a faculdade do Terreiro de Jesus para o Vale do Canela. Eles acreditam que a partir daí o patrimônio cultural e intelectual do prédio começou a ir, literalmente, por água abaixo. "Não sabemos que motivação política impede a entrada de, ao menos, um centavo para a recuperação da antiga faculdade", comenta a bibliotecária Maria José Rabello. A presidente da comissão e da Academia de Medicina da Bahia, Maria Theresa de Medeiros Pacheco, diz que o sentimento é de indignação.
"Estamos apelando para o presidente da República, para os ministros, as câmaras legislativas e os órgãos de classe. Precisamos da mobilização de todos para salvarmos este patrimônio", afirma Maria Theresa. A Comissão de Acompanhamento das Obras e Restauração da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus se queixa da prioridade dada à reforma da ala nordeste, em detrimento aos outros ambientes da área de 12 mil metros quadrados. Os membros da comissão afirmam que não foram levados a sério pelos dirigentes da reconstrução. "Jamais nos ouviram", afirma Lamartine Lima.
A dor do descaso.




Mais grave ainda é a condição da biblioteca da faculdade do Terreiro. A história da biblioteca começa em 1836, vinte e oito anos depois da instalação da Faculdade de Medicina no Colégio dos Jesuítas. O acervo contava com documentos datados da vinda do imperador D. João VI ao Brasil tendo, portanto, uma grande importância histórica e inestimável valor cultural e científico. Durante este período, todas as coleções eram muito bem trabalhadas e conservadas. De 1876 até o início de 1905 a biblioteca viveu o seu apogeu. Entretanto, no carnaval de março de 1905 os foliões acompanharam o incêndio que consumiu parte do edifício da faculdade. Nesta ocasião, foram queimados 22 mil volumes dos quase 100 mil existentes. Reinaugurada em 1909 teve seu acervo recomposto com doações de toda a sociedade baiana.
A derrocada da biblioteca começou com a transferência do campus do Terreiro de Jesus para o campus do Vale do Canela. Sem espaço disponível na nova sede, todo o acervo foi deixado para trás. Não apenas o abandono, como também as más condições estruturais do prédio do Terreiro de Jesus construído em 1553 pelos Jesuítas e a ação do tempo, contribuíram para a deteriorização de todo o acervo.
O material encontra-se hoje em péssimas condições de conservação, com proliferação e mofo, ratos e insetos, que devoram dia após dia as memórias do templo da medicina. Teses de mestrado, doutorado, monografias, trabalhos publicados por professores e estudantes, livros raros... tudo isso sendo perdido por negligência dos responsáveis. Hoje acredita-se que 50% dos 160 mil títulos estão perdidos. O descaso do governo federal para com o patrimônio que constitui a Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus é flagrante.
Livros e documentos históricos em péssimo estado de conservação
A água das chuvas, quase diárias em Salvador, escorre por entre papéis bicentenários
A situação é crítica. Pisos e tetos nos vários ambientes da construção de 400 anos correm o risco de desabamento.
Não dá pra entender por que, na reforma, foi priorizada a ala nordeste do prédio, com a reconstrução do Anfiteatro Alfredo Britto, enquanto o pavilhão da biblioteca de 160 mil livros, o salão nobre, as salas da congregação e dos lentes e o Memorial da Medicina Brasileira ficam à toa.
A verdade é que a administração da UFBa atual têm o desejo de transformar todo o Terreiro em um complexo empresarial-turísticos para convenções de alto-nível, daí estar se fazendo de tudo para destruir até o último fio de dignidade do Terreiro. Não pensem que isso é mentira, apenas procurem saber o que é um tal de um projeto chamado Universidade Livre. Esse projeto visa a aplicação de 1,5 Milhão de reais, que teoricamente deveriam ser investidos na restauração do Terreiro, na transformação dele num grande e caro centro de convenções na área turística mais nobre da cidade de Salvador, agradando à iniciativa privada e a outros interesses obscuros.
O que você quer fazer para salvar a primeira instituição de ensino superior do Brasil, a primeira faculdade de Medicina no Brasil, o Templo dos Deuses da Medicina, a Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus?


Pode começar protestando. Mande um e-mail para o reitor! gabinete@ufba.br
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