segunda-feira, 28 de maio de 2007

[Cultura] Sicko - O novo filme-documentário de Michael Moore

Sicko, que passou neste sábado, no 60º Festival de Cannes, trata do sistema de saúde dos EUA. Moore fez uma descoberta assombrosa. O sistema público americano de saúde foi desmantelado no governo republicano de Richard Nixon. Hilary Clinton tentou ressuscitá-lo no governo de seu marido, Bill Clinton, mas os congressistas e associações de classe uniram-se contra o que definiam como um projeto de socialização da saúde nos EUA. Armado de sua câmera, Moore recolhe histórias de pessoas que perderam seus entes queridos porque o sistema privado instalado na América volta-se para o lucro. Quanto menos atendimento os segurados tiverem, melhor para as empresas. Fundou-se, como conseqüência, uma cultura de dizer não às necessidades dos associados. Moore vai ao Canadá, à Inglaterra e a França para mostrar como nestes países, onde o sistema de saúde é gratuito, não apenas as pessoas são bem (muito bem) atendidas como a expectativa de vida da população é maior. Um bebê nascido em El Salvador tem mais chance de sobreviver do que outro nascido em Chicago, você acredita nisso? Moore tem a fama de manipulador e, certamente, continua manipulando seu público, mas o que ele cita são pesquisas da Organização Mundial de Saúde. A parte talvez mais polêmica de Sicko refere-se aos heróis do 11 de Setembro, bombeiros e profissionais da saúde que contraíram doenças pulmonares pelo vários dias e semanas que ficaram aspirando pó e fumaça nos destroços do World Trade Center, em busca de sobreviventes. Nenhum deles consegue ser atendido nos EUA. Moore descobre que, na base de Guatánamo, onde o governo Bush abriga suspeitos de atividades terroristas, os homens da Al-Qaeda dispõem de melhores condições de atendimento que os cidadãos americanos. Ele freta um barco e tenta levá-los para Guantánamo, que é, afinal, parte do território americano encravada em Cuba. A entrada na base é negada e Moore ruma, então, para Havana, onde os heróis americanos encontram, nos hospitais públicos de Fidel Castro, o atendimento que lhes é negado nos EUA Ele está ameaçado de ser preso por isso. Na coletiva, já deu para ver que seus elogios ao modo de vida de canadenses, franceses e ingleses vai render muita polêmica. O elogio ao sistema de saúde cubano, então, nem se fala. Cuba pode não ter papel higiênico, mas tem medicamentos quase de graça. Na Inglaterra, o paciente não só é atendido de graça como os medicamentos - todos - possuem um preço universal baratinho. E mais - o sujeito ganha o dinheiro da condução para voltar para casa, o que faz do sistema hospitalar inglês o único em que o caixa funciona para pagar os pacientes, não para tomar-lhes dinheiro. Moore nega que Sicko seja sobre o sistema de saúde implantado nos EUA. Diz que Tiros em Columbine também não era só sobre armas e Fahrenheit - 11 de Setembro sobre o fatídico ataque em Nova York. Todos tratam de outra coisa. Veja aqui o trailer do filme: Por que isso é importante? Porque os planos de saúde querem fazer no Brasil o mesmo que foi feito nos Estado Unidos, e o trabalho médico é cada vez mais desvalorizado e a sáude do paciente está em último lugar. Por isso viva o Sistema Único de Saúde, e que ele continue a evoluir para se tornar tão perfeito na prática como é no papel.

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